Juliano Moreira
1873 - 1933
Biografia
Juliano Moreira nasceu em Salvador, Bahia, em 6 de janeiro de 1873, filho de uma empregada doméstica portuguesa e de pai desconhecido. Apesar das adversidades sociais e raciais da época, Moreira teve uma trajetória acadêmica brilhante. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos, formando-se aos 18 anos com a tese "Sífilis maligna precoce".
Após sua formação, viajou para a Europa, onde estudou com renomados psiquiatras como Emil Kraepelin na Alemanha. Ao retornar ao Brasil, tornou-se professor da Faculdade de Medicina da Bahia e, em 1903, foi nomeado diretor do Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro, cargo que ocupou por 27 anos.
Durante sua gestão, Moreira implementou profundas reformas humanizadoras no tratamento psiquiátrico no Brasil, abolindo o uso de camisas de força e outros métodos de contenção física. Faleceu em 2 de maio de 1933, deixando um legado transformador para a psiquiatria brasileira.
Contribuições para a Psicologia
Juliano Moreira foi uma figura revolucionária na história da psiquiatria e da psicologia no Brasil:
Modernização da Psiquiatria Brasileira
Moreira introduziu no Brasil as teorias psiquiátricas alemãs, especialmente as de Emil Kraepelin, promovendo uma abordagem mais científica e menos moralista dos transtornos mentais. Ele substituiu o modelo francês predominante, baseado na teoria da degenerescência, por uma visão mais biológica e humanista da doença mental.
Combate ao Racismo Científico
Em uma época em que teorias racistas dominavam o pensamento científico brasileiro, Moreira, como homem negro e cientista respeitado, contestou ativamente as teorias que associavam raça à degeneração mental. Ele argumentava que fatores sociais, educacionais e sanitários, não raciais, eram determinantes para o desenvolvimento de transtornos mentais.
Reforma Institucional
Como diretor do Hospício Nacional de Alienados, Moreira implementou reformas significativas que transformaram a instituição de um local de confinamento para um centro de tratamento. Ele introduziu a terapia ocupacional, melhorou as condições sanitárias, separou pacientes por tipo de transtorno (não por classe social como era comum) e proibiu métodos de contenção desumanos.
Formação Profissional
Moreira foi pioneiro na formação especializada de profissionais em psiquiatria no Brasil. Ele criou programas de treinamento para médicos e enfermeiros, elevando o nível do cuidado psiquiátrico no país. Sua ênfase na educação continuada e na pesquisa científica estabeleceu novos padrões para a prática profissional.
Legado
O legado de Juliano Moreira para a psicologia e psiquiatria brasileiras é imenso e multifacetado. Ele é frequentemente chamado de "pai da psiquiatria moderna no Brasil" por seu papel na transformação das práticas e instituições psiquiátricas do país.
Sua abordagem humanista e científica ao tratamento de transtornos mentais estabeleceu as bases para o desenvolvimento da psiquiatria brasileira ao longo do século XX. Ao combinar rigor científico com compaixão pelos pacientes, Moreira demonstrou que o tratamento eficaz deve respeitar a dignidade humana.
Seu combate ao racismo científico foi particularmente significativo, desafiando ideias eugenistas que eram amplamente aceitas na época. Como cientista negro em uma sociedade profundamente racista, Moreira não apenas contestou teorias discriminatórias com argumentos científicos sólidos, mas também representou, através de sua própria trajetória, uma refutação viva dessas teorias.
A influência de Moreira se estende além da psiquiatria, alcançando a psicologia clínica, a saúde pública e as políticas de saúde mental. Seu nome é homenageado em diversas instituições, incluindo o Hospital Juliano Moreira na Bahia, e seu trabalho continua a inspirar profissionais comprometidos com uma abordagem humanista e científica da saúde mental.
Obras e Publicações
Juliano Moreira foi um autor prolífico, publicando mais de 100 trabalhos científicos ao longo de sua carreira. Algumas de suas contribuições mais significativas incluem:
- Classificação de Moléstias Mentais (1919) - Uma adaptação da classificação de Kraepelin para o contexto brasileiro
- A luta contra as degenerações nervosas e mentais no Brasil (1922) - Onde contesta as teorias racistas sobre degeneração mental
- Fatores hereditários em psiquiatria (1925) - Discute a influência da hereditariedade nos transtornos mentais, com uma abordagem científica e não racista
- Assistência aos epilépticos: colônias para eles (1905) - Propõe modelos mais humanos de tratamento para pessoas com epilepsia
"A doença mental não escolhe raça, cor ou classe social. O que determina seu surgimento são fatores biológicos, sociais e ambientais que afetam igualmente a todos os seres humanos." - Atribuído a Juliano Moreira